A YMAA - Linhagem Histórica - Grão-Mestre Cheng, Gin-Gsao
O Grão-mestre Cheng, Gin-Gsao foi mestre de Grou Branco do Dr. Yang. Nascido no dia 15 de Novembro, era o segundo rapaz da família Chen, e devido a um acordo entre o seu pai e a sua avó, ele foi adoptado pela família Cheng, de modo a poder vir transmitir o nome.
Apesar do seu pai ser um especialista em Taizuquan e outros estilos, o Mestre Cheng não teve a oportunidade de aprender com ele, pois normalmente, para proteger o segredo do estilo, os mestres não transmitiam o segredo da arte a pessoas fora da família. Contudo, foi com o seu irmão que o Mestre aprendeu um pouco sobre o estilo Taizuquan, embora fosse bastante superficial.
Quando tinha 15 anos, o Mestre Cheng, encontrou o Grão-Mestre Jin Shaofeng, vivendo como um eremita num local remoto da montanha. O Grão-Mestre Jin provinha da China Continental e era especialista em Grou Branco do Sul, mas também conhecia Cinco Punhos Ancestrais (Wuzuquan) que incluía os estilos Grou Branco (Baihequan), Taizuquan, Dazunquan, Luohanquan e Boxe do estilo Macaco (Houquan).
Foi neste contexto que o Mestre Cheng viria a tornar-se seu aluno, praticando com ele durante 23 anos. Após a morte do Grão-Mestre Jin, o Mestre Cheng e outros três dos seus colegas ficaram a proteger o túmulo, mantendo-o sempre limpo durante três anos e só então se separaram.
Quando o Dr. Yang começou a treinar com o Mestre Cheng, já este tinha 50 anos de idade (1950).
Mestre Cheng veio a falecer a 5 de Maio de 1976. No entanto, a sua sabedoria contínua a chegar até nós, através do Dr. Yang.
Numa tarde, fui visitá-lo e perguntei-lhe porque é que o mesmo movimento era aplicado de modo diferente por dois dos meus colegas de treino. Ele olhou para mim e perguntou: “Pequeno Yang! Quanto é um mais um?” Sem qualquer hesitação respondi: “Dois.” Ele sorriu e abanou a cabeça dizendo: “Não! Pequeno Yang, não são dois.”
Fiquei confuso e pensei que estava a brincar. Ele continuou: “O teu pai e a tua mãe juntos são dois. Depois de casarem, tiveram cinco filhos. Agora, já não são dois, mas sete. Podes ver que um e um não são dois mas sete. A arte está viva e é criativa”.
Através desta história podem ver que a mentalidade da arte é criativa. Depois de aprender todas as técnicas do seu professor, se nunca tivesse aprendido a criar, o grande compositor Beethoven nunca se teria tornado tão bom. E o mesmo para o grande pintor Picasso. Se não tivessem aprendido a criar, os seus génios nunca teriam sido notados. Deste modo, podem ver que a arte está viva e não morta. Porém, se não tiverem aprendido técnicas suficientes e alcançado um profundo nível de compreensão, desviar-se-ão da via correcta ao criarem e a arte criada será defeituosa. Há um ditado na sociedade de artes marciais chinesas: “O professor leva-nos até à porta; a cultivação depende de nós mesmos.”
O Mestre Cheng contou-me uma história: Era uma vez um rapaz que foi visitar um ancião e lhe perguntou: “Honorário ancião, ouvi dizer que era capaz de transformar um pedaço de pedra em ouro. É verdade?” “Sim, meu jovem. Tal como os outros, queres também um pedaço de ouro? Vou transformar um pedaço para ti.” O rapaz respondeu: “Oh não! Não quero um pedaço de ouro. O que gostaria de aprender é o truque que usa para transformar as pedras em ouro.”
O que pensam sobre esta história? Quando aprendem algo, se não ganharem a essência da aprendizagem, permanecerão na superfície, segurando apenas nos ramos e flores. Porém, se conseguirem sentir a arte profundamente, serão capazes de criar. Sentir profundamente permitir-vos-á ponderar e finalmente compreender a situação. Sem este sentimento profundo, o que verão será apenas a superfície. Este sentimento é a chave da compreensão da teoria da arte.
O meu mestre de Grou Branco contou-me outra história ocorrida quando tinha dezassete anos. Era uma vez um bambu que tinha acabado de brotar do solo. Olhou para o céu e sorriu, dizendo para consigo próprio: “Alguém me disse que o céu é tão alto que não pode ser alcançado. Não acredito que seja verdade.” O rebento era jovem e sentia-se forte. Acreditava que se continuasse a crescer, um dia poderia alcançar o céu. Por isso continuou a crescer e a crescer. Passaram-se dez anos e depois vinte. Olhou de novo para o céu, que continuava para além do seu alcance. Finalmente compreendeu algo e começou a vergar. Quanto mais crescia mais se dobrava.
O meu professor pediu-me para recordar sempre “Quanto mais alto o bambu cresce, mais para baixo se dobra.”
Um dia fui visitar o mestre Cheng depois das aulas. Vi-o sentado à frente da sua casa a tocar o huqin (um tipo de guitarra chinesa), o seu instrumento musical favorito. Aproximei-me dele e disse-lhe que me sentia frustrado porque estava a aprender muito lentamente e compreendia apenas muito superficialmente as coisas quando comparado com outros colegas.
Ele olhou para mim com uma face carinhosa e disse: “Por que olhas à volta? Se queres lavrar é porque gostas de lavrar. Não te importes se as outras pessoas olham para ti ou não. Tão pouco se és mais rápido ou mais lento que os outros.
É assim quando aprendes artes marciais. Simplesmente baixa a tua cabeça e continua a cavar. Não olhes à volta. Se olhares e descobrires que estás à frente ficarás orgulhoso e satisfeito. Se estiveres atrasado, ficarás deprimido. Por isso, baixa-te e continua a cavar. Um dia quando ficares cansado e decidires fazer uma pausa, verás que deixaste todos os outros muito atrás e nem os conseguirás vislumbrar.”